Uma gota de Esperança parte 2

Numa passagem rápida pela cidade de São José do Rio Preto, numa das viagens a caminho de Araçatuba, eu e meu marido nos deparamos com essa imagem feita numa árvore. Com a sua experiência na área da Biologia, observou que ela pode ter sido produzida por insetos. Na hora que recebi a informação, logo associei ao desenho do Rei Leão, na cena em que o macaco percebe que chegará um novo leãozinho que ajudará sua tribo. Acredito que o desrespeito com o ciclo da vida já está na fase crítica no nosso planeta, e tenho convicção de que todos os dias nascem diferentes Simbas que precisam ser ouvidos, mas precisam viver como crianças que aprendem as diferentes culturas e respeitam a natureza e são respeitados de acordo com o seu desenvolvimento.

A partir disso, fico pensando nas pequenas gotas de esperança que vão sendo produzidas em diferentes lugares. Um exemplo é o Projeto Vida (Teve esse nome antes da criação do mesmo título para os projetos da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo), o qual foi criado pelo professor Gilberto Seno, que por acaso é meu marido, e que teve o envolvimento dos colegas de trabalho. Segue o registro efetuado por ele:

TCA - PROJETO VIDA
TURMAS ENVOLVIDAS: 8° ANOS
DISCIPLINAS ENVOLVIDAS: CIÊNCIAS, PORTUGUÊS, MATEMÁTICA, ARTES, HISTÓRIA, GEOGRAFIA, INFORMÁTICA, EDUCAÇÃO FÍSICA E SALA DE LEITURA.

JUSTIFICATIVA
Vivemos em um momento de grandes incertezas e muitas mudanças. Uma das ações que sempre foi muito importante e que está sendo refutada por parte de nossos governantes é a preservação do ambiente, sendo este um dos objetivos dos ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) que permeia os currículos da cidade de forma global.
Nas escolas cresce o desinteresse das crianças pelos conteúdos curriculares, pois estas não conseguem ver na escola um lugar que possa promover a sua ascensão e diminuir a desigualdade social. As crianças não conhecem sua história e a de seus pais e aceitam passivamente o lugar que lhes foi colocado e, além de tudo, sem sonhos para uma melhor qualidade de vida, como se estivessem isolados do resto do país.
As famílias sabem da importância da escola, mas não conseguem apoiar o processo de escolarização das crianças, uma vez que não tiveram esse apoio em seu próprio processo de escolarização; é notável a falta de exemplos positivos no cotidiano dessas famílias, inviabilizando assim modelos, ou referências positivas na vida dos nossos educandos. Dessa maneira, os pais e responsáveis,  agem de maneira omissa na educação dessas crianças, e muitas vezes encaram a escola comum depósito de crianças se eximindo de qualquer responsabilidade com a educação. No entanto é sabido que a educação é dever de todos. 
Diante dessa perspectiva, ainda identificamos que as crianças ficam mais tempo sem a presença dos pais (pois estes estão trabalhando) em situação de vulnerabilidade social, expostos às más intenções do mundo que o cerca. Na escola um modo de chamar a atenção é o confronto direto com funcionários (neste aspecto quem sabe são ouvidos ou vistos) e muitas vezes aumentando o conflito com os pais e responsáveis que se omitem diante das transgressões dos filhos.
Outro fato que nos salta os olhos é a questão do descarte de lixo realizado de maneira imprópria  na comunidade Nelson Cruz, onde vivem a maior parte dos nossos educandos, o que proporciona um série de problemas, pois atrai animais nocivos a saúde já que são hospedeiros de várias doenças que, atacam o próprio morador da região; o lixo também propicia o entupimento de bueiros e prejudica o escoamento de águas provenientes de chuvas aumentando as chances de enchentes e, com ela, novas doenças. Dessa maneira como podemos mudar o modo de pensar ou agir dessas crianças? Como fazer para conhecer um pouco da própria história? Como mostrar caminhos que possam trilhar para que tenha uma qualidade de vida melhor? Como colocar sonhos no caminho dessas crianças e que possam ser atingidos? Qual a ação que nos cabe enquanto escola e enquanto educadores? 
Na tentativa de mostrar uma nova perspectiva de vida para nossos alunos a escola está realizando o presente projeto que conta com a participação ativa das disciplinas de Ciências, Português, Artes, Matemática, Informática  e História. O projeto Vida está pautado em entender como esta comunidade é formada e qual a relevância da família e escola na vida dos educandos, quais os sonhos que os pais possuem, como ajudam seus filhos no dia a dia, quais as áreas de lazer, educação e cultura que tem disponíveis, como se apropriam do local onde vivem, qual a ocupação das crianças nos territórios educativos da região, entre outros.
OBJETIVO GERAL
Desenvolver práticas de vida sustentável, pacífica, próspera e equitativa para todos, agora e no futuro. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), foram propostas na agenda 30 adotadas pela ONU em 2015 e que fazem parte do Curriculo da Prefeitura do Município de São Paulo, propõe muitas alternativa para este projeto entre elas:
  • Cidades e comunidades sustentáveis: - Tornar as cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
  • Redução das desigualdades: - Reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.
  • Saúde e bem-estar: - Paz, justiça e instituições eficazes: - promover a sociedades pacificas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso às justiça para todas e todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
  • Igualdade de gêneros: - Alcançar a igualdade de gêneros e empoderar todas as mulheres e meninas.

As ODS sugeridas acima entram em consonância com os Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento nos Eixo Temático, “Vida, ambiente e saúde”:

METODOLOGIA
A partir do levantamento de dados na sala de informática, por meio de questionários socioeconômicos, iniciaremos o diálogo reflexivo com os educandos, por meio de rodas de conversa, orientando seus caminhos para que (re)conheçam a sua história. Os alunos serão imersos em uma atmosfera reflexiva e por meio da escrita contarão um pouco da sua realidade individual, para se reconhecerem como pessoas em uma comunidade e a partir daí, por meio de indagações, leva-los a refletir sobre as melhorias que poderiam de dentro para fora, ou seja, a partir de si próprio, mudando sua história, para o local onde vivem, e de que maneira poderiam atuar para a melhoria pessoal e do ambiente, seu modo de vida.
Neste projeto os alunos serão convidados a refletirem questões de vida muito importantes, e a partir de tais reflexões, despertar o incômodo de situações pré-determinadas, motivando-os a iniciarem um processo de mudança, quebra de ciclos, superações de dificuldades e ampliando suas perspectivas para um futuro melhor.
A proposta é realizar uma série de intervenções em que o aluno será o protagonista de sua própria história; é situá-lo em seu espaço e tempo, reconhecendo a sua história, inspirar novas possibilidades, novos horizontes, novas perspectivas. Os educandos refletirão sobre os caminhos que estão trilhando, a possibilidade de mudança de rota ou direção, reconhecendo a importância da família em todo esse processo. O projeto visa criar e resgatar sonhos para melhorar a qualidade de vida dos nossos educandos e assim melhorar a qualidade de vida de todos que os rodeiam no dia a dia.
O projeto será orientado por diversos professores em regime de colaboração, valorizando a interdisciplinaridade presente nos currículos da cidade.

AÇÕES
  • Levantamento de dados por meio de questionário socioeconômico aplicado na sala de informática que nos mostre as condições das famílias e como a escola poderia intervir e ajudar esses educandos.
  • Os educandos realizarão textos descritivos e reflexivos sobre sua própria origem, quem ele é, local onde mora, comunidade que está inserida e qual as principais ocupações das pessoas que moram no local.
  • Rodas de conversas reflexivas ao longo do projeto;
  •  Pintura de um quadro na técnica aquarela que represente a moradia dos educandos, ou algo simbólico que represente sua vida, seus costumes e o local onde passa a maior parte de seu tempo.
  •  Reconhecimento do território; visitas direcionadas a comunidade e aparelhos culturais da região. Explorar detalhes do local como, por exemplo, locais de descarte de lixo, ruas, casas ao redor, trabalho, comercio ao redor, bibliotecas, fábrica de cultura, etc.
  • Discussões guiadas sobre os caminhos que desejam trilhar e onde querem chegar; quais as atitudes que podem realizar para seguir em frente; quais as ações que podem fazer para que seus sonhos se realizem; como farão para resgatar o seu sonho; quais as opções que possuem para que se realize.



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